sábado, 31 de outubro de 2009

SOBRE TEMPO E TRABALHO

“Índio é preguiçoso”, reza a lenda popular calcada numa visão de trabalho tipificada pela revolução industrial que defendia a máxima “tempo é dinheiro”.
Embora seja óbvio o viés etnocêntrico – teoria que preconiza a superioridade de um povo sobre o outro se colocando como referência para tudo – o ocidente construiu um olhar sobre o trabalho colocando-o como o centro da vida, da realização e da dignidade da pessoa humana. E jogou por terra outros pensamentos, outras teorias, outras práticas que não levavam em consideração uma visão de tempo centrada na produção.
Por que, dizem, que o índio é preguiçoso – embora já tenha explicado que esse “índio” não exista – fazendo as pessoas criarem um estereótipo perigoso de povos tão diversos e distintos entre si?Para o indígena existem dois tempos: o passado e o presente. O passado é memorial. Serve para nos lembrar quem somos, de onde viemos e para onde caminhamos. Um povo sem memória ancestral é um povo perdido no tempo e no espaço. Não sabe para onde caminha e por isso se preocupa tanto aonde vai chegar. O passado é a ordenação de nosso ser no mundo. É ele que nos obriga a sermos gratos, a cantar e dançar ao Espírito Criador. É ele que nos lembra o tempo todo que somos seres de passagem.
O outro tempo é o presente. Para estes povos o tempo que importa é o presente. Meu avô afirmava sempre: “se o momento atual não fosse bom, não se chamaria presente”. Os indígenas são, portanto, seres do presente. Só sabem viver o e no presente. “A cada dia basta sua preocupação”, disse um certo pajé chamado Jesus.Viver o presente quer dizer que é preciso significar cada momento. Desde o acordar pela manhã até o momento do sonho tem que ser vivido com intensidade. Isso obriga o indígena a estar inteiro numa ação sem desviar-se dela. Uma caçada será frutífera a medida em que o caçador estiver envolvido nela, caso contrário não levará nada para casa.Viver o presente é olhar para si a cada dia e saber a necessidade daquele momento para o bom andamento da comunidade e fazer o que for bom para ela e não para si. É dar mais atenção ao coletivo do que ao individual. E isso exige um esforço e treinamento do corpo e da mente tão intensos que torna o jovem indígena uma pessoa integral. O mais importante, no entanto, do que quero dizer é que quem vive o presente não tem necessidade de planejar. Planejamento é a tentativa de congelar os acontecimentos que virão. É ter a ilusão de que se está prevendo o futuro. E o futuro é pura ilusão.Quando, em tempos antigos, os portugueses tentaram escravizar os indígenas esses não aceitaram aquela imposição. Trabalhar, para o português colonizador, era acumular. Acumulação é uma das dimensões do futuro. Acumula-se, poupa-se, guarda-se com a intenção de utilizar depois, amanhã. Os indígenas não sabem o que é o amanhã. E fugiram da escravidão. Os portugueses inventaram, então, que eles eram preguiçosos demais para aquela função nobre. E assim ficou.
Tempo e trabalho não são sinônimos. Trabalho e dinheiro também não. Trabalho não dignifica se ele escraviza. Trabalho demais nos dá tempo de menos. E tempo de menos tira da gente a alegria do encontro com os pais, com os filhos, com os amigos. Só o presente é um presente. O futuro é uma promessa que pode nunca chegar. Os indígenas sabem disso. Por isso vivem o momento.
Daí depreende-se também muitas explicações sobre a essência do ser indígena. Quem tem sensibilidade saberá distinguir diferentes pensamentos presentes em nosso mundo e descobrirá que a diversidade nos torna ainda mais coloridos.E queria dizer que é muito mais difícil viver o presente. Exige muito mais de cada um. O sonho – o futuro – nos desobriga a olhar para o lado e ver a necessidade diária do outro. O futuro nos torna egoístas e mesquinhos. Só o presente nos compromete.
Pense nisso.
Artigo semanal do Daniel Munduruku

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Meirelles vai à luta por Xingu

Fernando Meirelles já começou a captação de recursos para o novo projeto de sua produtora, a O2. Dirigido por Cao Hamburguer (de O Ano Em Quem os Meus Pais Saíram de Férias), o filme que contará a saga dos irmãos Villas Boas, os mais importantes sertanistas brasileiros.O longa-metragem já tem nome, Xingu, cujo parque nacional foi criado em 1961 a partir de uma campanha dos três irmãos.

Para viver Orlando, Claudio e Leonardo um elenco peso-pesado: Wagner Moura, Rodrigo Santoro e Selton Mello.Em carta já enviada a algumas grandes empresas para levantar recursos, Meirelles fala do apelo que um filme sobre a Amazônia teria hoje em qualquer parte do mundo.

sábado, 24 de outubro de 2009

1º SEMINÁRIO ÍNDIOS EM CONTEXTO URBANO

Ocorreu ontem, 24 de outubro, no Antigo Museu do Índio, situado na Rua Mata Machado, em frente ao Maracanã,o 1º Seminário do ponto de cultura: Índios Urbanos.
O encontro foi organizado por grupos que se mobilizaram para proteger o espaço ameaçado de demolição.
Compareceram ao Seminário durante todo o dia e a noite, alunos das Universidades: UERJ, UFRJ e UFF, de cursos como Ciências Sociais, Comunicação e Letras, além de representações sindicais, como do SEPE e de ativistas do Movimento Indígena.

Também apareceu no evento o diretor e cineasta Sérgio Péo, que mostrou total solidariedade a causa e se colocou à disposição para qualquer apoio.

O Seminário reuniu ainda representantes de 8 etnias: Guajajara; Kamaiurá; Guarani; Xavante; Pataxó; Baré; Kariri; Potiguara.
A Professora Marília Facó Soares da UFRJ Doutora na área de Lingüística, abordou a língua Tikuna, que, falada pelo maior grupo indígena do Brasil, possui também falantes no Peru e na Colômbia. Marília também é profunda conhecedora das línguas da família Tupi-Guarani, assim como línguas da família linguística Pano.
Carolina de Jesus, da etnia Potiguara, emocionou a todos ao ler o manifesto de Darcy Ribeiro, na inauguração do Museu do Índio em 19 de abril de 1952, documento onde Darcy, defendeu: "o Museu é o primeiro devotado não a mostrar bizarrices etnográficas, mas as altas contribuições culturais dos indígenas à nossa cultura, e sobretudo lutar contra o preconceito que apresenta os índios como atrasados, preguiçosos e desconfiados".
"Ninguém respeita aquilo que não conhece. Precisamos mostrar quem somos, a força, a beleza, a riqueza da nossa cultura. Só assim vão entender e admirar o que temos."
Wabuá Xavante
Foto: Rachel Coelho com Mutuá, da etnia kuikuro. Mutuá é neto de Nahú Kuikuro. Seu avô Nahú, acompanhou os irmãos Leonardo, Cláudio e Orlando Villas Boas, o Marechal Rondon e Darcy Ribeiro na criação do Parque Nacional do Xingu.

Foto: Benjamim Ginoux; Gabriel Locke e Mirco kuzih, apaixonados e apoiadores da causa indígena. O alemão Mirco se mostrou totalmente a vontade e integrado com os costumes de nosso povo. Os alemães já descobriram e valorizam o que os brasileiros ainda não perceberam.

Foto: A noite terminou com peixe na brasa e Riremê Sererowa puxando um canto Xavante.


ESTE FOI O 1º SEMINÁRIO E APARTIR DELE DAREMOS SEGUIMENTO A VÁRIOS CURSOS NO LOCAL, DE LÍNGUAS, CONTOS DE HISTÓRIA, DANÇA, CANTO E CULTURA INDÍGENA.

ESTE ESPAÇO É HISTÓRICO E ÚNICO MOMENTO VIVO DE NOSSOS ANTEPASSADOS ENTERRADOS EM TODO CONCRETO DO RIO DE JANEIRO.


VEJAM TODAS AS FOTOS DO SEMINÁRIO NO SITE:

http://www.mariarachelcoelho.com.br/ em

http://www.mariarachelcoelho.com.br/verEventoMEB.asp?id=19

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

NO DIA DO PROFESSOR UMA HOMENAGEM A AFONSO PEREIRA DA SILVA

Hoje a tarde, em seu discurso em homenagem ao dia dos Professores, o Senador Cristovam Buarque tentou mencionar alguns educadores e educacionistas históricos mas acredito que em razão do tempo, omitiu alguns mitos.

Embora hoje tenhamos muitos, venho aqui, por justiça, completar a lista.
Em primeiro lugar devo mencionar o russo Piotr kropotkin, criador do termo “educacionismo” ainda no século XIX, para designar os adeptos da "transformação social" através da "educação".O mexicano Justo Sierra , que também acreditava na educação como fator de crescimento econômico e de aperfeiçoamento da vida social.

Devo também mencionar o brasileiro Sílvio Gallo mas principalmente e talvez o maior de todos os educacionistas, o Professor Afonso Pereira da Silva.
Nenhum deles chegou tão perto do ideal educacionista. Afonso Pereira da Silva simplesmente idealizou e fundou 145 escolas por todo Estado da Paraíba na década de 70.

Afonso Pereira da Silva nasceu em 30 de outubro de 1917, em Bonito de Santa Fé, Estado da Paraíba; filho de José Pereira da Silva e D. Cherubina Pereira da Silva. Foi casado com Clemilde Torres Perreira da Silva.
Oriundo de família católica, estudou na capital do Estado, no Seminário Apostólico São Pedro Gonçalves, e, depois, no Colégio Franciscano de Rio Negro, no Paraná, efetuando nestes educandários a sua escolaridade de 2º grau, adquirindo uma base cultural sólida, edificada sobre os princípios cristãos, o que lhe garantiu galgar os mais importantes cargos em sua vida profissional.
Formou-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1948, procurando sempre aperfeiçoar-se, através de cursos nas áreas jurídicas e pedagógicas. Foi Deputado Estadual, além de ter exercido a função de juíz Substituto do Tribunal Regional Eleitoral e Provedor da Santa Casa de Misericórdia da Paraíba.
Ingressou na Academia Paraibana de Letras, em 21 de junho de 1966, recepcionado pelo Acadêmico Clovis dos Santos Lima. Em 20 de maio de 1978, foi eleito Presidente da APL, sendo reeleito por três vezes consecutivas, cumprindo, assim, um mandato que durou seis anos, transcorrido com sucesso.
Foi diretor da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais dos Institutos Paraibanos de Educação -IPÊ; diretor substituto da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba - UFPB; professor de Alemão, Francês, Latim, Grego, Português, Geografia, Ciências Naturais, Direito Autoral, Direito Romano e Pesquisa Social; professor do Lyceu Paraibano; professor e Diretor do Instituto de Educação da Paraíba; fundador e Presidente da Sociedade de Cultura Musical; fundador do Teatro do Estudante da Paraíba, da Orquestra Sinfônica da Paraíba e do Conservatório Paraibano de Música; fundador e 1º Presidente da Associação de Cultura Franco-Brasileira (Aliança Francesa) fundador dos Institutos Paraibanos de Educação - IPÊ; presidente e introdutor, na Paraíba, da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade - CNEC; instituidor e Presidente da Fundação Padre Ibiapina, com uma vasta rede de educandários, nos três níveis e graus; colaborador da imprensa paraibana, tendo sido o primeiro Diretor do Jornal Correio da Paraíba; correspondente de revistas nacionais; redator de Anais Científicos-Brasil Universitário, São Paulo; membro da Academia de Letras Jurídicas; membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano; membro da Associação Paraibana de Imprensa; membro da Academia Internacional de Letras; sócio Honorário da Associação Norte-Riograndense de Astronomia.
Meus sinceros pedidos de desculpas a Professora Clemilde Torres Pereira, a Ana Flávia Fonseca, a Daniella Barbosa, a cada paraibano que se orgulha tanto dessa história e principalmente a cada brasileiro que ficou sem saber que existiu alguém que mostrou na seca, na prática, sem qualquer dinheiro público, que nosso ideal é possível.

Não temos mais um Darcy Ribeiro naquele plenário para, sem vaidades, dar valor a esse trabalho, a essa história tão bonita.

Mas hoje foi apenas mais uma página. Estamos aqui D. Clemilde para mencionar o nome de Afonso Pereira da Silva em cada sala de aula, em cada canto deste país, e do mundo por essa internet. Estamos aqui, D. Clemilde, para continuar escrevendo esse livro que brilhantemente seu marido iniciou.

Obrigada por existirem e Parabéns pelo dia de hoje.

Maria Rachel Coelho
Professora e presidente executiva do Movimento Educacionista do Brasil – MEB.

www.mariarachelcoelho.com.br

PARABÉNS A ILHA ENCANTADA - PARINTINS - 157 ANOS !







Viaja caboclo, viaja
Viaja em teu pensamento
Ao olhar no espelho das águas
O azul do firmamento
É azul a cor do céu
É azul minha paixão
É o azul do Caprichoso
O boi que me deixa orgulhoso
No grito de guerra da minha nação
Viaja caboclo, viaja
Braço forte na remada
Como se ouvisse bem alto
O batucar da Marujada
A floresta na magia
Despontando com esplendor
Mostra a mais linda toada
Caminho da ilha encantada
Na voz do caboclo sonhador
Viaja caboclo, viaja
Vai chegando ao seu chão
Como um sonho de marujo
Reascendendo a emoção
Ele esquece do remo
Ele esquece da dor
Balançando as bandeiras
Na arena o seu mundo se revela
Agora ele é um pássaro sonhador
Viaja caboclo, viaja
Viaja caboclo, viaja
Viaja caboclo, viaja
Viaja...
Vejam mais fotos em:

domingo, 11 de outubro de 2009

MEMORIAL VILLAS BÔAS SERÁ INAUGURADO NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2010 EM SÃO PAULO

Nos delírios frios da malária, o sertanista Orlando Villas Bôas entoava canções sertanejas. "Nunca vi alto sem baixo, nem morro sem boqueirão, mato tem bicho feio, tem boto e tem leão", cantava alto o sertanista, tiritando sob camadas de cobertores - dizia adorar os calafrios, a aliviar os 40°C do seu Xingu. Delirava, também, estrofes de poesia. "Tu tens 15 anos só, como és menina/ tenho 23, como envelheço/ tu és primavera que fascina/ sou inverno triste que escureço." A velar seu leito, por 33 anos, uma única enfermeira: Marina Villas Bôas, menina que fascinou o sertanista, com quem se casou em 1969. "Ele se embrenhava na mata só de bermuda e chinelo, os mosquitos faziam a festa", ela conta, na sala de casa, na Lapa, zona oeste da capital. Nos 61 anos de defesa da causa indígena, Orlando sofreu 253 acessos de malária, contados em exames de laboratório. Fato que leva a enfermeira, eterna protetora, a olhar para o alto, pensativa, e balançar a cabeça. "Alguém, realmente, tinha de cuidar do homem."
Sete anos após a morte de Villas Bôas, Marina ainda hoje toma conta do marido: com a ajuda dos filhos, é ela quem cataloga as 2,5 mil peças de seu acervo, boa parte guardada em estantes e prateleiras da casa da família. A catalogação - difícil identificação de peças presenteadas por kamaiurás, karajás, kuikuros, entre dezenas de etnias com as quais Villas Bôas manteve contato - é preparação para o futuro memorial ao sertanista, que será construído no Parque Orlando Villas Bôas, na antiga usina de compostagem da Vila Leopoldina. "Catalogamos mil peças, num trabalho de formiguinha.Ainda há muito o que fazer", conta a enfermeira de 72 anos, natural de Borborema, no interior. As obras do Memorial Villas Bôas, segundo a Secretaria Municipal de Cultura, começam no primeiro semestre de 2010.
Não há pesquisador que conheça melhor o trabalho de Villas Bôas do que sua família. "O trabalho de Orlando era tão intenso que todos, não só eu, mas nossos filhos, Noel e Orlando Filho, mergulhamos juntos. Todos entramos na mata." Por 12 anos, entre 1963 e 1975, Marina deu sofrido expediente no Parque Indígena do Xingu - reserva que reúne 14 tribos em Mato Grosso, criada em 1961, maior realização dos irmãos Orlando e Cláudio Villas Bôas. Na selva, Marina viveu momentos impensáveis em tempos de estudante, na escola do Hospital Matarazzo. "A veia aventureira estava escondida."
Logo nos primeiros meses de Xingu, viveu a tensa situação de realizar primeiro contato com uma tribo desconhecida. "É o momento mais difícil. São meses acampados na mata, até que os índios, e só os índios, decidam fazer contato. Ninguém sabe a reação." O contato com a tribo txikão, naquele 1964, seria feito para convencê-los, simplesmente, a abandonar o local onde viviam. Estavam no caminho de futura rodovia, tinham de sair dali.
Após gritos de anunciação, lembra Marina, os índios irromperam da mata até a clareira onde a equipe estava - a curiosidade, intensa, foi representada em mãos, mãos, e mãos, de 50 índios, querendo tocar a pele de Marina, primeira mulher branca que viram na vida. "Nunca fui tão apalpada. Éramos quatro de nós, e 50 índios curiosos, a me tocar. Voltei ao acampamento e, aliviada, recebi um abraço apertado." Era Orlando, a retribuir, do modo mais terno possível, a proteção que a esposa lhe dava.
DE CONSULTÓRIO
Antes de chegar à reserva, Marina havia visto índios - um índio, na verdade - uma única vez na vida. "Quando atendi um indiozinho que fugiu da Ilha do Bananal, não podia imaginar que trabalharia com eles o resto da vida." Foi o próprio sertanista quem convidou a enfermeira - que trabalhava no consultório de Murilo Vilela, amigo de Villas Bôas - para integrar a equipe no Xingu. "Ele se tratava da malária, com vitaminas. Viveria com isso a vida toda. E eu, também."
Nos 33 anos em que foram casados, Marina ouviu do marido máximas como "precisamos salvar essa outra humanidade", "nunca vi índios discutindo" e a famosa definição de que, entre as tribos, "o velho é o dono da história, o índio é o dono da aldeia, a criança é dona do mundo" - incorporadas ao repertório da família. "O memorial servirá para cultivar a paixão pelas raízes", diz o filho Noel, que hoje dá palestras sobre a obra do pai.
Se Villas Bôas teve reconhecimento mundial - foi indicado duas vezes ao Prêmio Nobel -, o bairro da Lapa, para onde a família se mudou em 1989, também homenageou o ilustre morador. Após sua morte, em dezembro de 2002, foram criados no bairro um memorial e um busto, e batizados um anfiteatro (no Colégio Santo Ivo) e uma escola, todos em homenagem a Villas Bôas. "No Dia do Índio, a casa amanhecia cheia de cartazes no portão, feitos por crianças do bairro", conta Marina. A pedido da associação de moradores, foi criado projeto de lei para nomear o Complexo Anhanguera em homenagem aos irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas - a proposta é que seja batizado Complexo Irmãos Villas Bôas, e que cada um dos três viadutos leve o nome de um deles.
Ao lado do sertanista por uma vida, Marina também recebeu homenagens - no Conselho Nacional de Enfermagem foi criado o Prêmio Marina Villas Bôas, pelos serviços no Xingu. Enquanto Marina esteve lá, quatro anos correram sem registros de óbitos infantis. Há ainda outra homenagem: no mês passado, soube que receberá o título de "Cidadã de Borborema". "É gostoso saber que nossa terra nos acompanha também."
No galpão nos fundos da casa,onde é realizada a catalogação, há capítulos importantes da história do País. "O que houve no interior entre 1943 (Marcha para o Oeste, tentativa do governo Vargas de ocupar o interior) e 1960 (inauguração de Brasília), datas mais lembradas? Pois está tudo aqui", diz Marina, apontando imagens e documentos. Contrastando com 40 fotos de índios nas paredes, estão pendurados oito quadros dos Villas Bôas. "Era o canto de trabalho de Orlando, o preferido dele." Ao centro, há uma foto da família toda - pai e filhos se abraçam, observados atentamente pela mãe, Marina, enfermeira dedicada a proteger, até hoje, a memória de Villas Bôas.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091004/not_imp445502,0.php

domingo, 4 de outubro de 2009

NOSSO SITE ESTÁ NO AR

Venho comunicar a todos que nosso site, embora ainda em construção, acabou de entrar no ar, em função da gravíssima ameaça que estamos passando com a antiga sede do Museu do Índio. A notícia já corre no Google.
Em breve o site estará completo e atualizado com fotos, vídeos de nossas palestras e nossos eventos.

Vamos em frente!

Maria Rachel Coelho

http://www.mariarachelcoelho.com.br/

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Um pouco da História do Antigo Museu do Índio localizado no Maracanã, no Rio de Janeiro

Tradicional prédio do antigo MUSEU DO ÍNDIO, no Maracanã (RJ), patrimônio público tombado, tem projeto para ser demolido e transformado em estacionamento.
O terreno onde funcionou de 1952 a 1977, a primeira sede do Museu do Índio, foi vendido, durante o Fórum de Palermo, em 18 de julho de 1865. Conforme consta da escritura lavrada a fls. 138 do Livro, n. 213, no segundo ofício de Notas, documento arquivado no Ministério da Justiça e Negócios Interiores, constando como vendedores o Comendador Manuel José de Bessa e sua mulher Dona Maria Constança Ferreira de Bessa e comprador o Capitão Tenente Antônio Coelho Fragoso, na qualidade de representante de sua Alteza Real o Senhor Duque de Saxe, que mais tarde vem a doá-lo.

A União Federal, proprietária do imóvel, por força do registro do RGI, Cartório do 11 Ofício, Livro 2-U/), fls. 04, na matrícula n. 62.610, faz, em 27 de setembro de 1984, um contrato de doação do imóvel para Companhia Brasileira de Alimentos – COBAL, Empresa Pública Federal, criada pela lei delegada 6 de 26/09/1962,constituída sob a forma de sociedade por ações e que em virtude da fusão,criada pela Lei 8.029 de 12/04/1990,passou à nova denominação de Companhia Nacional de Abastecimento, CONAB.
Segundo a cláusula terceira do referido contrato foi arbitrado o valor de 13.931.301,00 ( treze milhões, novecentos e trinta e um mil e trezentos e um cruzeiros), incluído o Museu do Índio que já funcionava na Avenida Maracanã 252, esquina da Rua Mata Machado, por onde tem o n. 127 (duas frentes) na Freguesia de Engenho Velho.

Em 1986, por instrumento particular de contrato de cessão de uso, a COBAL, representada pelo seu diretor presidente, Dr. João Felício Scardua e pelo seu diretor de administração, Dr. Ronald de Queiroz Fernandes cede ao Ministério da Agricultura todo o imóvel, incluindo o prédio do antigo Museu do Índio e anexo. Ressalte-se que parte do imóvel objeto da referida cessão já se achava ocupado pelo Ministério da Agricultura, que ali, já mantinha os laboratórios da Secretaria de Inspeção de produto Animal – SIPA.

Em 9 de outubro de 1992 a União cede a área (contrato de cessão gratuita do Museu do Índio, tendo como cedente a Diretoria Federal de Agricultura e Reforma Agrária no Estado do Rio de Janeiro e cessionário a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra,constando como cláusula terceira que o referido imóvel deverá abrigar os setores administrativos e culturais, tais como: auditório, sala de estudos e biblioteca e outras atividades a critério da direção.

O Museu do Índio foi inaugurado em 19 de abril de 1953. É esta a data usada nos textos em geral e na Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu. Embora consideremos1952 de acordo com Darcy Ribeiro. Em seu livro, “ Aos trancos e barrancos: como o Brasil deu no que deu”, Rio de Janeiro, Guanabara, 1985, Darcy afirma que a inauguração do Museu deu-se em 1952.

O Museu do Índio, desempenhou um papel histórico na longa luta em defesa das populações indígenas, tendo à frente nomes emblemáticos como o do Marechal Rondon e do próprio Darcy. Em termos museográficos, o museu – projeto do arquiteto Ary Toledo – foi considerado um marco da museografia, passando a exercer enorme influência nacional e internacional. O tombamento do prédio em 1997 foi importante para sua preservação e no trabalho de revitalização da própria área em que se insere.

Feito esse breve e bem confuso histórico, nos dias de hoje, no casarão abandonado vivem dezenas de índios de diversas etnias. Os índios levam uma vida comunitária em que misturam valores da selva e da civilização. Os cerca de 35 mil índios que vivem no Estado do Rio de Janeiro, ali tem aconchego garantido, já que o Museu do Índio transferido em 1978 para a Rua das Palmeiras em Botafogo é dirigido por autoridades não indígenas e a burocracia impede que os indígenas tenham qualquer auxílio,salvo, em eventos festivos.

O prédio no Maracanã, está em precárias condições e os índios se revezam, e na garra e improviso se mantêm na área, temendo perdê-la para mendigos e para o próprio Poder Público. Apenas dois banheiros atendem a todos, que dormem em barracas de acampamento, amontoados em uma parte onde não chove, já que todo o resto da casa está devastada . O fornecimento de água e luz foi feita por escambo com a Secretaria da Agricultura, que ali tem hoje dois prédios.


Há duas semanas estamos desesperados com uma informação de que um projeto idealizado pelo ex-prefeito Cesar Maia, idéia apresentada à prefeitura na época pelo escritório Gilson Santos e Carlos Porto Arquitetos – o mesmo que criou as jóias do Pan, como o Engenhão e a Cidade dos Esportes já está na mesa do Secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Afonso Kroetz e do Coordenador de Apoio Laboratorial, Jorge Caetano Junior, para ser concretizado na primeira quinzena do mês de outubro próximo, segundo o qual o imóvel estaria sendo vendido por 30 milhões para uma empresa privada espanhola, pela prefeitura do Rio para a construção de um Shopping Center e um imenso estacionamento para 3.000 automóveis. Segundo o projeto tal Parque, ainda ligaria o Maracanã à Quinta da Boa Vista, e visa a Copa do Mundo de 2014, quando o Estádio do Maracanã exibirá dois jogos, incluindo o da final.
Sem falar na desintegração do complexo laboratorial que funciona no Ministério da Agricultura em anexo a casa do índio.
A desintegração física e técnico-científica desse órgão é gravíssima para o Rio de Janeiro porque todo o controle de produtos industrializados, tanto na área animal, quanto vegetal e também os produtos importados e exportados nesta área são feitos pelo laboratório do Ministério da Agricultura -RJ. Qualquer produto para poder desembarcar (porto, aeroporto ou fronteiras), precisa de um laudo analítico de qualidade sob pena de colocar a saúde da população em risco de febre aftosa, alimentos contaminados, pragas da agricultura etc. Como um porto como o do Rio de Janeiro, importante desde à época do Império vai perder essa função para outra cidade. Só tem essa estrutura hoje para avocar tal fiscalização Pedro Leopoldo em Minas Gerais ou Campinas.
Trata-se da defesa de uma área restrita e exclusiva do Governo Federal que está sendo privatizada.
Temos todos os documentos e certidões que comprovam o relatado.
Estamos atentos e tomando as medidas legais.
O que os índios que moram lá querem é a reestruturação da casa e sua transformação em um Centro Cultural, resgatando e divulgando a cultura indígena. E já temos até um empresário alemão querendo investir na reforma do casarão.


Estamos programando para a próxima semana uma grande festa no local, para mostrarmos nossa força e disposição de não sair dali, oportunidade que convocaremos toda a imprensa.

Se você quiser se engajar nesta luta, visite a casa, fale com os índios que moram lá.
Hoje já instalamos internet na casa, em dois computadores. Vamos começar a fazer barulho no mundo inteiro. Depois do dia 15 de outubro talvez eu mesma os receba, dependendo da gravidade e veracidade deste “ato secreto” eu também vá acampar lá porque

Só sairemos de lá mortos!

Maria Rachel Coelho